sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Só mais duas coisas para emocionar

Até o ano que vem!

A cada ano mais leitores do Come-se se tornam meus amigos reais e sou tão grata por conseguir reunir estas pessoas perto de mim. E agradeço também àqueles que me acompanham de longe, com quem tanto aprendo. E àqueles que me lêem no silêncio e no anonimato. Ou que caem aqui via Google pra saber o que é grumixama e nunca mais voltam - pois alguns ficam. O Come-se volta no ano que vem, logo nos primeiro dias.  Vou estar animada e com saudade desta interação que me faz tão bem. 
Votos de alegria e saúde para todos no ano novo!

Natal sem fome

Cena ontem no meu bairro
A gente vive num país sem fome, onde sobra pão amanhecido. Centenas de pães, que vão pro lixo assim. Quem sabe um faminto não vê, não rasga o saco e leva todo o pão pra ele antes que mofe, deve pensar o jogador, no melhor estilo espírito natalino.   Ei donos de padaria, nunca ouviram falar que pães amanhecidos fazem ótimas torradas, bolos, pudins, recheios, sopas?  Não sabem que o faminto tem lá sua digna mania de comer só alguns pães por dia, mas de preferência todo dia?  Não sabem que há em São Paulo instituições como ong Banco de Alimentos

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Coluna do Paladar de hoje: Cuca de uva

FOTO: Felipe Rau/Estadão

Cuca fresca – e fofa, e crocante…

  • Publicado originalmente no Jornal O Estado de São Paulo, Caderno Paladar, de 20 de dezembro de 2012e no blog do Paladar. 

    Por Neide Rigo
Corre solto Brasil afora um Natal diferente deste que querem nos vender. O Natal do cuscuz à paulista, do escaldado de peru, do pato no tucupi, do matambre recheado, do marreco assado, do empadão, da leitoa, do frango com farofa de miúdos, das bolachas em forma de estrela. Mas é muito mais fácil padronizar os hábitos que atendê-los em suas diferenças. Então, que se coma brioche (ops!, panetone – com frutas tingidas e resistência forçada para durar até o inverno).
Gosto daquele Natal que ainda vive por aí, pelo menos na lembrança de muita gente, na minha, na da família do Paraná e na de meus amigos gaúchos, cujo pré-preparo começa com a arrumação da casa para deixá-la um brinco. Na véspera, os meninos buscam musgo para disfarçar a lata do pinheiro ou para fazer o presépio que vai acomodar personagens moldados com barro cru e pode ser verdejado também com grãos de arroz germinado. O presente é um item importante só para as crianças, que ainda conseguem se alegrar com bolas coloridas ou bonecas que não falam nem comem. Talvez isso tenha ficado para trás.
Na cozinha reinam as mulheres e, para garantir a provisão para os dias de festa, as latas velhas e muito limpas de biscoito começam a ser enchidas com bolachas cortadas em formato de estrela, ou rosquinhas de farinha de trigo ou polvilho. Em pleno verão, roscas doces repousam cheirosas sob cobertores para levedar na calma escura. E, direto do forno, rumo a toda a vizinhança para atiçar as vontades, vapores de cucas de frutas assando. E é aí que quero chegar. Nas cucas, nas frutas e nas uvas.
Minha mãe não comprava panetone e quando começou a aparecer era um só, presente da firma do meu pai. Mas ela fazia e ainda faz cuca, quase sempre de banana, para aproveitar a penca que amadurece, e às vezes de maçã, mas nunca de uva. Junto das frutas de época, como pêssego, melancia e manga, as uvas niágara eram para a sobremesa do almoço, ao natural. Eram compradas em caixas. Vinham rosadas, cobertas com fina camada de cera translúcida, bojudas e cheirosas, como acontece ainda hoje, embora já não pareçam tão saborosas. Quando passávamos as férias no sítio dos avós, a videira se enchia de cachos maduros com doçura de mel justo nos dias de festas, como presentes de Natal, e baciadas iam à mesa, apesar do ataque prévio das crianças ao parreiral provando uva a uva para eleger o melhor cacho.
Mas, para você não achar que vivo de reminiscências, o vinho de hoje é muito melhor que aquele que se batizava com água, açúcar e gelo para ficar bom. Temos muito mais opções de boas comidas para variar o cardápio, e não guardo nenhuma boa lembrança dos gritos do porco.
Coisa boa é que neste ano tive a sorte de ter uma boa safra de uvas niágara agarradas à cerca, no meu quintal, sem agrotóxicos. E não pense que estou só. Andando pelo bairro, já vi várias parreirinhas de jardim carregadas. Com a safra, resolvi fazer a cuca cuja receita aprendi com d. Iraci Berghan, que faz para vender, em Ivoti (RS), onde cuca é o panetone de todo dia e será o meu de Natal, com adaptações. É uma cuca fofa, com cobertura refrescante, ácida e doce.
Os gaúchos descendentes de alemães, no Rio Grande do Sul, têm um dialeto próprio, pouco compreendido por brasileiros e até mesmo pelos germânicos, mas a palavra cuca é uma exceção, pois já foi incorporada ao vocabulário gastronômico de quase todo o País, com várias opções de cobertura e até em versões modernas feitas com fermento químico em vez da levedura. Trata-se de uma corruptela do nome original cheio de consoantes. O bolo com farofa crocante é conhecido na Alemanha como streuselkuchen, sendo que streusel é a farofa – mistura de manteiga, açúcar e farinha – e kuchen quer dizer bolo. Streuselkuchen virou kuchen – ou cuca.
Cuca de Uva 
Ingredientes
30g de fermento biológico fresco
250g de açúcar
12g de sal
750 ml de leite (ou metade leite, metade água)
100g de manteiga sem sal, em temperatura ambiente
2 ovos
1 colher (sopa) de suco de limão 1,25 kg de farinha de trigo
Raspas de um limão taiti
Para a farofa
1 xícara de açúcar
1 xícara de farinha de trigo
100g de manteiga derretida
Para a cobertura
1,5 kg de uvas escuras (niágara ou isabel), lavadas e secas
Modo de fazer
Numa tigela grande, dissolva o fermento com o açúcar e o sal no leite. Acrescente a manteiga, os ovos e o suco de limão.
Junte a farinha, aos poucos, mexendo com colher de pau, até ficar difícil de mexer. Passe, então, a trabalhar a massa com as mãos enfarinhadas, juntando as raspas do limão e o resto da farinha, aos poucos, só até formar uma massa homogênea e muito macia. Não deve ser firme como a de pão nem mole como de bolo. Também não precisa ser excessivamente trabalhada. Cubra com pano e deixe crescer até dobrar de volume.
Faça a farofa: misture com as mãos os três ingredientes até formar uma farofa úmida.
Unte uma forma retangular 45 por 32 centímetros com manteiga e enfarinhe. Ajeite a massa no fundo da forma escolhida, cubra com uvas (pode pressionar um pouco para que entrem na superfície da massa) e espalhe por cima a farofa. Deixe crescer novamente até dobrar de volume e leve ao forno preaquecido (cerca de 200°C) e deixe assar por cerca de 1 hora ou até que a farofa fique dourada por cima. Espere amornar, desenforme e espere esfriar caso queira embalar pedaços para dar de presente ou guardar na geladeira por até uma semana. Para ter pedaços mais regulares, para dar de presente, melhor assar em forma retangular.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Crianças podem plantar e colher nas férias

Clique e amplie
O Fernando Oliveira, do Alimento Sustentável (que traz para São Paulo joias como o queijo Canastra do Zé Mário entre outras) também é organizador deste acampamento para crianças, do Instituto Himalaia. Se Ananda não fosse uma moçona, era pra lá que iria mandá-la nas férias para aprender a lidar com a terra, com o alimento e, sobretudo, para comer bem e se divertir.  Informações: Fernando@himalaia.org.br. Tel (11) 9 9955 9091

O primeiro araçá

O primeiro araçá a gente nunca esquece!  Do vermelho, em Piracaia. 

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Armas, comidas e bebidas

Ananda, minha filha, é médica residente em otorrino no HC aqui em São Paulo, mas está trabalhando numa missão, junto com colegas de profissão de outras especialidades, em Afogados da Ingazeira, em Pernambuco. Fico louca para que me mande fotos de comida, que me diga o que se come por lá, mas até agora não obtive muito êxito na insistência. Em vez disso fotos a conta gotas e torpedos: Comem comida normal. Hoje tem linguiça. Comi macaxeira. Não chove tem um ano. A paisagem é árida. No parque não se pode entrar com armas nem com comidas nem bebidas. 

Ananda e Mag, da psiquiatria

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Chutney de manga verde cru

Continuando o assunto Dia de campo urbano/ Terra Madre Day, dou aqui a receita do chutney de manga verde que fizemos para o almoço. Aproveite que a cidade (pelo menos a de São Paulo) está cheia de mangueiras carregadas. E este é um ótimo momento, porque ninguém colhe na cidade frutas que tenham que preparar em casa - nem morcegos, ratos ou passarinhos.  Já as frutas maduras, todo mundo quer, a começar pelos bichos. Então, use mangas como legumes. Ela só é ácida e perfumada. Nada de travos ou falta de gosto. O chutney é refrescante, bom para dias de calor. Sirva com arroz ou frango assado.

Chutney cru de manga verde

Polpa de 5 mangas bem verdes descascadas e picadas  (ou cerca de 300 gramas
1 cebola de 100 g picada, de preferência roxa
1 colher (chá) cheia de cominho em grão tostado
1 colher (sopa) rasa de açúcar mascavo
1 pimenta dedo-de-moça picada
Sal a gosto

Coloque todos os ingredientes no processador e bata até ficar bem triturado. Na geladeira, dura até 1 semana em pote fechado. No freezer, 6 meses.
 
Veja aqui a versão que deu origem a esta. Na outra, usei folhas de coentro e bati no liquidificador e também fica delicioso. Se não tiver processador, pique na faca, finamente ou tente o liquidificador, desligando e misturando, desligando e misturando.
 
 

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Purê de banana verde

 Esta foi uma das receitas que fizemos depois da expedição pela cidade no Terra Madre Day. Cortamos com faca as bananas que nos interessava, umas dez, de uma cacho bem verde. Lavei, cozinhei em panela de pressão por cerca de meia hora ou até que as cascas começaram a se partir. Espetei as frutas com garfo e ele entrou com facilidade. Este é o ponto. Descasquei ainda quentes e bati no processador até ficar com uma textura mais homogênea. Juntei, enquanto batia,  cerca de meia xícara de creme de leite e umas duas colheres (sopa) de kefir. Mas teria ficado bom também se tivesse leite de coco e iogurte. Ou só leite de coco. Ou só leite. Bem, o purê de 10 bananas verdes pequenas (eram pratas, mas podem ser nanicas) foram temperados assim: coloquei numa panela umas 2 colheres (sopa) de manteiga e juntei ali uma cebola média picada em quadradinhos. Quando dourou, juntei 1 colher (chá) de grãos de coentro e 1 de grãos de cominho - tostadas levemente e trituradas, 1 colher (sopa) de cúrcuma ralada (também resultado de nossa colheita urbana). Mexi bem e juntei o purê de banana. Juntei sal, provei, faltou sabor, juntei 1 colher (sopa) de melado, mas poderia ser açúcar mascavo. Provei de novo, pronto, estava bom. Janaína provou, faltava sal, bota sal a gosto e pronto. Guilherme tirou as sementinhas da maria gorda, língua de vaca, major-gomes, lobrobró de jardim ou beldroega de folhas grandes, entre tantos nomes (Talinum paniculatum), que são como grãos de papoula ou, quem sabe, mostarda. Derreti um pouco de manteiga, juntei as sementes, deixei aquecer um pouco, e joguei tudo em cima do purê. Agora, sim. Nhac!  

Antes que me pergunte se ficou bom, se trava na boca, se tem gosto de banana madura, já respondo: fica uma delícia, você não identifica a banana mas talvez uma batata, um tubérculo, uma raíz, sem nada de tanino.  Tudo bem que era pouco, mas não sobrou nada! Experimente e me conte. 




quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Dia de Campo na cidade. Faça assim sua festa de fim de ano

Taí uma opção para comemorar o fim do ano com os amigos em vez de festa de firma e presentes de amigo secreto de família em que o tirado pede o que quer ganhar, com cor e modelo,  e você compra sem precisar escolher. Aliás, para esta situação, sugiro estipular o mínimo de cem reais ou até mais e todo mundo dá o valor em espécie, cheque ou depósito em conta, e assim cada um tem seu dinheirinho de volta e compra o que quer.  É também um jeito de encontrar aquele seu amigo que não teve tempo o ano inteiro para te ver e fica se sentindo culpado pela falta de atenção, com medo de o ano acabar, e o mundo acabar, sem ao menos um último encontro, tentando combinar um almoço ou jantar de última hora, em restaurantes lotados e caros. Esqueça e diga que ele está perdoado.

Presentes, mudas, sementes. Foto Sonia Campos
A proposta, sem custos ou contragostos é reunir os amigos e fazer uma expedição pela sua cidade ou bairro como a que fizemos aqui em São Paulo, no bairro City Lapa, para comemorar o Terra Madre Day, do Slow Food.  E mesmo não sendo amigos, durante o passeio uma amizade verdadeira há de nascer. E mesmo que não seja neste fim de ano (que não vai acabar no 21 nem no 31), que seja a qualquer tempo. Como presentes, nada de objetos comprados no Shopping mas, traz quem quer sem cobranças, sementes, farinhas artesanais, uma fruta diferente, uma muda de planta, um prato que fez. Foi o que apareceu espontaneamente no nosso grupo. Não é difícil, nem queira complicar. Sempre vai haver no grupo alguém que tem olhos bons para plantas, mangueiras, jaqueiras, pés de dente de leão, serralhas e serralhinhas. Se as ervas são mais difíceis de reconhecer, levante os olhos e veja as árvores. Pitangas, uvaias, grumixamas, bananas, mangas, tamarindos, cerejas do rio grande, cerejas de joinville, nêsperas, limões, mexericas, lichias, abacates, carambolas... Tem de tudo em plena cidade de São Paulo e quase sempre estas árvores nos observam silenciosamente do alto sem ser vistas a não ser quando nos cai um abacate pesado na cabeça - acorda, cabeção!  Tenho certeza que no seu entorno também vai encontrar algum tipo de flora comestível, ainda que não seja esta citada. Nem tudo são frutas neste momento, mas muitas destas árvores estão apinhadas, como as mangueiras. Está certo, as mangas estão verdes ainda, mas e daí?, é verde mesmo que a gente quer para fazer, por exemplo, a torta cuja receita darei em breve - quero repeti-la para medir direito os ingredientes -, ou um suco, sorvete,  um chutney que pode ser feito com mangas em vários estágios de maturação, um caril de galinha ou uma salada.  

Só para você se animar e não ficar achando que isto é um grande mico, aqui vão alguns depoimentos felizes de quem participou: 

Olá Pessoal.
Foi uma honra e um grande prazer compartilhar com vocês o Terra Madre Day!
Uma celebração da diversidade, da terra, da expressão espontânea da natureza, do pega-se e come-se, e da convivência com pessoas muito bacanas. Adore!!!
Parabéns Neide pela comemoração e surpreendente manhã de segunda-feira.
Abraços a todos, Cenia
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Pessoas,
obrigada a todos pelos bons papos e pelo muito que aprendi. Achei incrível termos formado um grupo tão homogêneo, com tanta gente tranquila, simpática e generosa.
Gostaria de convidar a todos para uma visita aqui no viveiro (de mudas de árvores nativas), em Holambra. Podemos depois seguir para conhecer mais algum lugar, como por exemplo o viveiro Ciprest, do Edilson Giacon, que a Neide sempre indica no Come-se. Será um prazer recebê-los.
Rodrigo, topa organizar?
Sejam bem vindos também no De Verde Casa, onde coloquei minhas fotos e impressões do passeio. Aliás, passeio não, expedição!, que é muito mais a cara do que fizemos!
Um abraço a todos e até a próxima,
Juliana.
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Maravilhoso!
Prometo da próxima vez chegar cedo.
saludos,
Andrés
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Neide,
Agradeço o carinho da sua acolhida e a oportunidade de compartilhar o terra madre day com pessoas tão especiais.
Compartilho com todos vocês uma foto que não vi nem no" come-se" e nem no" deverdecasa", o cesto com a polpa seca do fruto do Boabá, que a Neide gentilmente nos ofereceu para degustação. Vai ficar na minha memória gustativa aquele sabor ácido e ao mesmo tempo refrescante...
Pessoal, adorei conhecer todos vocês!!!
Beijos, Sonia
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Neide, acho que foi mútuo, senti que todo mundo estava feliz por estar
lá, aprendendo um pouco mais e vislumbrando o mundão que temos ainda
para aprender.
Adorei conhecer todo mundo e ver ao vivo o cenário do Come-se (ou
seja, sua casa e as praças e ruas da região). Era mesmo tudo como eu
imaginava, vibrante, cheio de vida e de possibilidades.
Agradeço muito a sua recepção e os conhecimentos que você e os outros
compartilharam. Adorei o almoço preparado a tantas mãos e com tanto
empenho. Foi uma festa de sabores diferentes do
arroz-feijão-bife-salada-de-alface de sempre.
Nunca mais vou passar por uma cerca sem procurar os mini-pepinos! :)
Bjão pra todos
Leticia
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Amigos!!!!
Foi um dia muito especial, sinceramente uma vivência que jamais
esquecerei, tudo muito harmonioso, as pessoas, o clima, as situações,
o resultado ( a comida deliciosa das mãos da Neide). No programa da TV
cultura "Provocações" com Antonio Abujamra , ele sempre faz uma
pergunta final ao entrevistado.....O que é a Vida?... Se fosse eu o
convidado diria: E encontrar pessoas maravilhosas que nunca se
viram numa segunda-feira ensolarada, andar por ruas e praças,
colher alimentos invisíveis até então , aumentar o conhecimento e
brindar com um almoço delicioso
Agradecido a todos!!! por esse dia muito especial
Fábio
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Neide e Amigos,
Engrosso a fileira dos maravilhados! Deixou na boca o gosto de quero mais, expedições e viagens. Para combinar com a flora diversificada, a fauna também. Grupo diversificado e habilidoso: todos driblaram a segundona!
beijos e até,
Lili
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Olá a todos!
Creio que realmente o que tivemos pode ser chamado de um evento bem-sucedido.
Deixou-me perplexo como conseguimos estabelecer uma sintonia fina em um grupo de 14 pessoas, muitas se encontrando pela primeira vez. Talvez porque estivessem todas de coração aberto para trocar e aprender, e ainda porque era uma segunda feira longe do trabalho e com um céu azul de brigadeiro...
Outra coisa marcante foi estar nos cenários do blog, e ver de perto a praça, a cozinha, o quintal, os pés de cúrcuma... Foi como, mantendo-se a proporção, conhecer o cenário de um filme ou de um livro querido. Diria que, em partes, um pouco surreal, e só me dei conta que estava lá quando saímos à rua...
Neide, sua coragem de abrir as portas da casa para muitos desconhecidos imagino que tenha valido a pena! Precisamos marcar mais encontros– achei a experiência revigorante!
Nesse primeiro encontro não me dei conta e acabei levando mudas e sementes apenas para a anfitriã. Pretendo numa próxima levar algumas coisas para o grupo todo. Como disse a Cenia, apenas uma janela e alguns vasos já são suficientes para alguma produção. Quase ousaria dizer que somos biopiratas navegando por (po)mares urbanos...
PS: Fabio, vou sonhar para sempre com a sua torta maravilhosa!
Um forte abraço a todos!
Guilherme
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neide, obrigada!! muito muito obrigada pelo convite, por tudo.
que segunda feira maravilhosa com tanta gente bacana!!
incrível tudo, o passeio, descobrir q não estamos sozinhos nessa "doidisse" de comer selvagem e subversivo, aprender e aprender, e conseguir, no final, orquestrar um almoço de reis e rainhas!!
de noite estava cansada e feliz, como depois de um bom dia de praia ou roça, e mais feliz ainda por ter conhecido tantas pessoas especiais,
sinto que os pepininhos vão ser extintos aqui da lapa se não plantarmos muitos e muitos rapidamente!! aqui em casa já estamos tentando fazer as mudas!
beijos e espero vê-los todos muitíssimo em breve!
carol
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Oi pessoal, Foi muito legal conhecer pessoas novas com as quais rolou uma sintonia fantástica, E sem duvida foi sensacional reencontrar os rostos conhecidos. Enfim, Parabéns a vc Neide por conseguir juntar essas pessoas tão incríveis.
acho que dias como este do Terra Madre Day são verdadeiramente completos. Aprendi muita coisa, compartilhei o que eu pude das coisas que já sabia, me diverti muito, fiz exercício; aprendi a valorizar mais aqueles espaços que apesar de serem "de todos", são amplamente desprezados pela maioria; conheci pessoas legais e comi coisas únicas que certamente vão se traduzir em mais saúde e poesia. Acho que uma das coisas mais legais é que ao voltar para casa parecia que a cidade era mais humana, mais aconchegante e mais... saborosa.
Tudo isso ajuda a aumentar bastante a expectativa dos encontros futuros. Até porque eu e a Neide estamos desenvolvendo essa idéia de organizar as Expedições Come-se como sendo justamente uma tentativa de gerar este tipo de encontro para as pessoas colocarem em prática aquilo que acreditam. A propósito, Juliana achei a idéia ótima, vamos conversar mais para viabilizar isso sim.
Enfim, sol e chuva na medida certa para cada um de vcs
Beijo
Rodrigo
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Queridos biopiratas navegantes por (po)mares urbanos,
Foi um privilégio conversar, colher e cozinhar com essa gente sabida mas meu deus tão generosa, que compartilhou seus saberes sem economizar nas medidas: enche essa xícara, transborda essa colher!
O encontro só foi possível graças a uma pitada (caprichada) de ousadia da Neide.
Viva a Neide, viva as pitadas que fazem toda a diferença.
Neide, muito obrigada.
Valeu, pessoal!
"Vamos chegar".
Beijos,
Nana
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Neide, plagiando a Olívia, "São Paulo tem jeito porque tem Neide".
Adorei a experiência, aprendendo sempre, com você e as pessoas queridas que junta ao teu redor!
Muito obrigada!
Janaína
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Poxa gente! Como agradecer a Neide pelo convite e a maravilhosa companhia de vocês? Que sintonia fantástica, como o próprio Rodrigo disse!
Para mim foi um dia muito importante e que pude comemorá-lo com todos vocês...a alegria, a sensação de que já nos "conhecíamos" foi maravilhosa.
Aprendi muito com a experiência de cada um e concordo com o Guilherme, somos "biopiratas". O resultado do trabalho/diversão/aprendizado coletivo foi delicioso e ficou com uma cara ótima (curti muito o post no Blog da Neide e o da Juliana).
Espero vê-los sempre!
Lúcia

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Arroz integral com bredo e feijão verde






O bredo ou caruru, sobre o qual já falei aqui  é muito usado no sertão e nas zonas rurais de um modo geral. Foi uma das ervas que coletamos aqui no bairro da Lapa, ontem, na expedição Come-se/ Terra Madre Day


Estes foram usados para fazer uma quiche
Depois de cozidas, as folhas e galhos ficam macios e gostosos, com sabor mais suave que espinafre. Não sabia muito bem o que iria fazer com as folhas, mas tinha deixado cozinhando na panela elétrica uma xícara e meia de arroz integral misturado com outros grãos (sete grãos) em 4 xícaras de água e sal. Um dia antes também cozinhei os feijões verdes, presentes da Marisa Ono que se juntaram ao pouco que colhemos, de vagens vermelhas e grãos clarinhos. Sei lá que espécie é, mas ninguém morreu até agora. Era mais ou menos 1 xícara dos grãos cozidos (algumas vagens verdes picadas entraram na dança e foram cozidas junto com os grãos coletados).

Mais ou menos duas xícaras das folhas de caruru ou bredo bem lavadas foram refogadas e escorridas. Na verdade, ia refogar as folhas de batata doce, mas me enganei e coloquei na panela as de bredo, que eu teria refogado com a cebola, antes de juntar o arroz. Mas ficaram tão boas e temperadas, cozidas e macias, que a receita agora é deste jeito mesmo.  Foi assim: dourei alho picado num pouco de azeite, despejei umas 4 colheres (sopa) de água, temperei com sal , deixei ferver e juntei as folhas de bredo.  Mexi devagar até as folhas murcharem. Depois de uma rápida fervura, só o suficiente para que as folhas amaciassem (uso esta técnica para cozinhar várias folhas silvestres ou não que não sejam super macias e sensíveis). Escorri bem  e o caldo foi usado depois para cozinhar as folhas de batata doce.

Numa frigideira grande, aqueci um pouco de azeite e dourei uma cebola. Juntei 1 colher (sopa) de cúrcuma ralada e mexi bem.  Despejei ali o arroz cozido, o feijão, as verduras e um pouco de pimenta vermelha sem sementes picada. Misturei tudo, aliás, foi a Janaína quem mexeu com cuidado e carinho e foi ela quem notou que faltava um pouco de sal, ok, providenciado, e que pedia uma cor, dada pela pimenta do quintal. Ficou bom e todo mundo comeu um pouco, mas acho que rende mesmo umas seis porções.

Usamos as vagens verdes e os feijões das que começavam a amadurecer

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Terra Madre Day - dia de campo na cidade


Saímos com mãos vazias e voltamos com sacolas cheias
Ontem foi o Terra Madre Day e até agora já aconteceram ou estão para acontecer, mundo afora,  857 eventos para comemorar a data.  O Come-se convidou leitores e amigos para celebrá-lo com um dia de campo na cidade, descobrindo e reconhecendo espécies comestíveis no espaço urbano. A ideia era que estivéssemos em 10 ou 11, no máximo, porque depois cozinharíamos o produto da colheita e minha cozinha é pequena. Mas a turma cresceu e saímos em quatorze pessoas que depois se ajeitaram entre o fogão, a pia e a mesa do quintal. Deu tudo certo e ninguém se lembrou que era segunda-feira (sim, todos trabalham, mas deram um jeito). Cênia Salles, lider do convívio do Slow Food São Paulo também participou. 

Alguns leitores do blog, eu já conhecia e outros, não, mas foi como se fossem todos de casa, suportando o calor, o barulho das panelas, o improviso e o espaço pequeno. Tivemos a sorte de contarmos com a presença de um leitor do Come-se que sabe tudo de planta. O Guilherme Ranieri reconhece muito mais espécies comestíveis que todos nós e com ele aprendemos muito durante todo o trajeto que fizemos pelas ruas da City Lapa. Não só reconhece, mas sabe tudo sobre elas, desde o nome científico até a fisiologia da espécie. 

Rodrigo Ferreira também contribuiu bastante, pois além de subir nas árvores para colher frutas, é especialista em agrofloresta e nos mostrou pequenos exemplos pela cidade, como um canteiro na praça Senador José Roberto onde encontramos bananeira, mamoeiro, feijão, beldroegas e batata-doce - desta, colhemos as folhas. 

Juliana Valentini, do viveiro Oiti, de Holambra e do blog Deverdecasa, colaborou com seu conhecimento e laranjas para o suco (as últimas de um pomar vizinho que foi derrubado).  Ainda ganhei farinha de milho, cachaça, mudas e sementes.  E se tudo isto não bastasse, na hora de lavar, cortar, picar, cozinhar, todo mundo compartilhou o trabalho, de modo que fiquei tranquila para cozinhar e conversar sem afobação. Flora, minha sobrinha, foi também meu braço direito.  Está certo que deixei algumas etapas adiantadas porque chegaríamos com fome. Um dia antes cozinhei feijão verde que ganhei da amiga Marisa Ono, do blog Delícia,  que o cultiva em Ibiúna. Antes de sairmos, deixei cozinhando arroz integral com outros grãos e na véspera fiz uma torta de manga verde com receita da sogra da Juliana, já que as mangueiras paulistanas estão carregadas. Preparei ainda no domingo uma massa de nhoque com banana verde. Havia sobre a mesa alguns ingredientes trazidos de Piracaia, como ovos de galinha caipira e tomatinhos da roça, outros trazidos do sitio da Marisa, em Ibiúna, além de uvas, pimentas e ervas do meu quintal. Tudo isto para, junto com nossa colheita, improvisar nosso almoço. 

Nas ruas encontramos grumixamas vermelhas e amarelas, pitangas, uvaias, graviolas, limões, tamarindos, mangas e bananas verdes. De ervas, colhemos beldroega,  língua de vaca, buva, bredo, serralha, folhas de batata-doce, dente de leão, serralhinha, salsão silvestre, mentruz, flor de sabugueiro etc. Encontramos ainda vagens vermelhas de feijão e cúrcuma. A grande novidade e encanto, no entanto,  foram os pepininhos silvestres avistados pelo Guilherme na cerca de uma casa meio abandonada. Se eu soubesse que era de comer, não teria metido a enxada, nos disse uma mulher que se disse cuidadora da velha moradora. 

As mangas verdes já estavam na torta feita antecipadamente, mas foram também para um chutney cru com pimenta e cominho, para a salada e para o suco. O bredo foi aferventado em água com alho e sal e ajudou a temperar o arroz junto com o feijão verde e cebolas. Já as folhas de batata-doce foram simplesmente refogadas no alho e cozidas em pouca água até que ficassem macias. As folhas picantes de buva (Conyza ssp) foram transformadas pela Cenia em pesto delicioso servido com a salada verde feita com todas as outras folhas além de tomatinho da roça e os micro pepinos silvestres (Melothria pendula). Para o purê, usamos as bananas verdes cozidas com casca na pressão e temperadas com creme de leite, cebolas douradas com a cúrcuma ralada e grãos de cominho e de coentro tostados e triturados. Para decorar o purê, espalhamos sementes de língua de vaca (Talinum paniculatum), aquecidas na manteiga. A massa de nhoque de banana verde (purê de banana temperado com noz moscada, sal e manteiga) já estava dentro de tubos de biscoito e foram cortadas em rodelas, como nhoques romanos de semolina. Cênia cobriu com queijo meia cura, de Piracaia, ralado e creme de leite. Por cima espalhou folhas de manjericão e orégano e levou ao forno. Bebemos suco de laranja, de tamarindo e de manga verde e comemos de sobremesa a torta de manga e a de banana com ameixa feita pelo Fábio Metello. Pronto, tivemos um almoço leve, fácil, gostoso, feito com vegetais que crescem por aí à sombra da observação do homem urbano. Ah, como aperitivo tivemos degustação de horchata de xufa feito com batatinhas de tiririca que eu trouxe da Espanha, comemos polpa de baobá que eu trouxe do Senegal,  e alho negro preparado pela amiga Marisa Ono. 

Acho que todos nós gostamos da experiência. E já que não temos por aqui floresta com cogumelos como os europeus que saem para a coleta com cestinha de palha e cajado, que tal reunir seus amigos, se paramentar de tênis, chapéu, água, canivete, tesoura e sacola de pano, um pau de vassoura com um gancho (como o que o Marcos fez para mim) e sair por aí olhando praças verdes e calçadas de terra descoberta em meio ao escuro do asfalto e ver o que consegue colher. Pode não ser um modo de se viver, economizar e comer todos os dias, mas garanto que pode ser muito divertido e instrutivo, principalmente se estiver em boa companhia. Eu estive! 

Algumas fotos (minhas e da Flora Rigo):

Grumixama vermelha
Um pau de vassoura com ganchinho na ponta
(feito pelo Marcos) ajuda a puxar frutas como
estes tamarindos

Cuidados com mangas verdes. O látex queima
Tiramos só algumas bananas. O resto ficou para amadurecer.
Cuidado com a seiva, que mancha a roupa
Cenia feliz por alcançar as mangas
Surpresa: pepininhos silvestres na cerca
Bananeira e limoeiro numa ilha verde entre asfaltos
Rodrigo nos mostra um micro exemplo de agrofloresta
Algumas vezes o sinal verdeja para nós. 
Rodrigo colhe limão rosa
Rodrigo colhe cúrcuma
Guilherme mostra batatinha da tiririca amarela
A última uvaia
As jabuticabas ainda estão verdes
Lúcia subiu na cerca para colher pepininhos
Graviolas no chão
Feijão que entrou no prato de arroz
Pepininhos
Cúrcuma
Tiririca amarela (Hypoxis decumbens - come-se a batata
Grumixama amarela
Limão rosa
Pitangas
Mangas verdes cozinhando para a torta
As últimas laranjas dos últimos pomares 
Alimentos locais
Todo mundo ajudando a preparar. Lili, de branco, não pode
esperar o almoço pronto. Perdeu, Lili! 
Os pratos prontos com suco de manga verde
Purê de banana verde com "papoulas" de língua de vaca
Salada urbana 
Arroz com feijão verde e bredo
Curry de manga verde 
Folhas de batata doce
Pesto de buva 
nhoque de banana verde 
Torta de manga verde
Torta de banana com ameixa - contribuição do Fábio Metello

Gente no chão: Sonia e Janaína (escondida)
Na banqueta: Fábio, Carol e Cenia
Com comida no colo: Letícia, Guilherme e Lúcia
De boca cheia: Sonia, Janaína e Juliana
Andrés Sandoval (autor do banner do Come-se) e Rodrigo
Com prato limpo, lambido, quero mais! Juliana, Nana e Flora
Veja também, no blog da Juliana,  o post sobre a experiência e muitas fotos legais: http://www.deverdecasa.com/2012/12/o-primeiro-terra-madre-day-gente-nunca.html