quinta-feira, 28 de junho de 2012

Alma da fruta no Paladar

Este já é o quinto Paladar - Cozinha do Brasil de que participo e véspera é sempre uma  loucura para os preparativos, principalmente porque minhas sócias de empreitada, Mara Salles e Ana Soares, não brincam em serviço. Então, amigos, não contem comigo nestes dois dias que me separam do grande momento, que minha cozinha por estas horas é pura feira. E o frio na barriga só faz aumentar. Desejam-me boa sorte e até segunda! 


Veja aí a semente de abacate que encontrei hoje protegida por uma película fina e marrom que a separava de uma massa verde mais que madura. Mas na nossa aula não haverá abacate.  



quarta-feira, 27 de junho de 2012

Cogumelo de Piracaia. Scleroderma citrinum (?). Come-se não



Eles estavam num platô do nosso sítio em Piracaia já envelhecidos, quase rachados a espalhar esporos. Uma bola marrom, com pés cor de cúrcuma.  Quem sabe não é uma espécie comestível, pensei. Trufas aéreas, quem sabe? Mas não, não mordi, que pareço mas não sou louca (nem o cogumelo desta minha foto aí ao lado, de Gonçalves - MG, comi). Não me lembrava de ter visto nos guias nada parecido. Mas fui procurar.  Os guias estrangeiros falam bastante do Scleroderma citrinum, muito parecido no design e na descrição geral, mas como não vi a bola fresca, não sei com certeza. Só sei desconfiando. E também, com outros ares, a mesma espécie pode ter cara um pouco diferente. Alguns guias, como o Wild Edible Fungi: a global overview of their use and importance to people, de E. R. Boa, dão como comestíveis várias espécies deste gênero Scleroderma. Já o guia El Gran Libro de las Setas,  de Ettore Bielli, mostra apenas duas espécies: citrinum e o verrucosum, sendo que o segundo, menos parecido com o que tenho nas mãos, traz a informação "não apta para o consumo" e diz que alguns autores consideram suspeito de provocar transtornos gastrointestinais.  Já o primeiro, o citrunum, que eu desconfio ser a espécie que encontrei, é descrito como tóxico, pois sua ingestão provoca graves transtornos gastrointestinais. De qualquer forma, na dúvida, quando se trata de comer, nada do preceito jurídico pró réu. Na dúvida, condene o suspeito até que se prove o contrário. Engraçado que o livro traz a informação de odor e sabor. Isto quer dizer que pelo menos não mata de imediato o sujeito que por ventura ou falta de juízo venha a comer. Sabe a alho, é o que diz o livro.  Como o meu estava maduro, pouco atrativo, não senti sequer desejo de uma mordiscada. Mas sabores de alho sempre me interessam... 

Aqui, um guia português de cogumelos, bem interessante, com boas fotos. 

http://www.afn.min-agricultura.pt/portal/cogumelos/resource/ficheiros/guia-de-campo-cogumelos-silvestres

E também um bom método para se cultivas cogumelos seguramente comestíveis, de maneira sustentável
http://sitiocurupira.wordpress.com/cogumeloshobby/

Outros cogumelos de Piracaia






terça-feira, 26 de junho de 2012

Cogumelos de São Paulo. Coprinus disseminatus

O toco de poda veio rolando com a enxurrada e parou na nossa calçada. Marcos achou bonito, recolheu e colocou ao pé da escada - pode servir pra alguma coisa. Meses e meses até a próxima temporada de chuvas. Um dia sem chover, nublado porém. Ao subir a escada vejo um amontoado de minis chapeus brancos acinzentados, do tamanho da ponta do dedo mindinho,  tentando se esconder na penumbra entre o muro e o tronco ainda úmido, alguns espiando a claridade. Ahá, descobri vocês!  Virei o toco e lá estavam aos montes, disseminados, os intocáveis. Tirei um com cuidado, a penas o toquei e ele rapidamente perdeu a compostura. Mas antes disso experimentei na ponta da língua. Depois comi inteiro pra tentar descobrir um sabor oculto.  Sei, sei, poderia ter morrido. Mas eu me lembrava de ter visto no meu livro de identificação que este era um cogumelo não apto para o consumo, Coprinus disseminatus. Entre seus pares, é praticamente inconfundível, diz o texto. E não apto, segundo a legenda do guia, quer dizer apenas que não tem interesse gastronômico. Não que seja tóxico  ou mortal, mas simplesmente que não tem sabor. De fato, lastimei confirmar a informação do livro, porque não tem mesmo sabor algum.  É como comer uma gelatina de água ou algo similar. E hoje já nem aparência elegante tinham mais. Tornaram-se escuros, caidinhos, decompostos.  Agora, na hora da fome, come-se. Nem que seja com os olhos. São lindos, não são?

Do "El Gran Libro de las Setas", de Ettore Bielli 
Ontem

Hoje



segunda-feira, 25 de junho de 2012

Salada de pão de nozes

Ontem almocei sozinha porque Marcos tinha uma apresentação de aikido em Sorocaba. Antes,  fizemos um bom café da manhã já que os amigos do aikido passariam cedinho para tomar café aqui em casa (e todos já chegam cheios de expectativas). Deixei o pão de nozes crescendo durante a noite para assar logo cedo. A mesa estava mais ou menos farta de modo que só voltei a ter fome lá pelas três da tarde e quando isto aconteceu fiquei com preguiça de fazer comida só pra mim, mas não a ponto de comer o mesmo pão em lanche. Fiz sim um sanduíche misturado, picado, à moda de uma panzanella italiana, subvertendo-a por não deixar o pão umedecer antes. O ideal é embeber o pão por uns 10 minutos em água fria e depois espremer bem. Claro que na minha salada o pão absorveu rapidamente o vinagre e o azeite, mas a água da ervilha evitou que o prato ficasse seco. 


Misturei numa tigela 3 fatias de pão de nozes, 1 tomate e 1 cebola, tudo picado mais ou menos do mesmo tamanho. Acrescentei umas 3 colheres (sopa) de ervilhas que eu tinha acabado de cozinhar (os grãos inteiros cozidos em água com um pouco de sal ficam parecidos com aquela ervilha enlatada), umas azeitonas pretas, um pouco de salsinha e temperei com 3 colheres (sopa) de azeite, 1 colher (sopa) de vinagre de vinho tinto caseiro, sal e pimenta-do reino. Misturei tudo e nhac sob o sol no jardim com uma taça de vinho.  


sexta-feira, 22 de junho de 2012

Sopa de ervilha para Ananda

Ultimamente Ananda tem me mandado fotos pelo celular já tarde da noite mostrando o que está comendo. Ela sempre esteve ocupada em estudar e quase nunca estava perto de mim na hora de cozinhar, então está aprendendo agora que mora sozinha. E faz como qualquer moça e moço da sua idade quando quer cozinhar:  liga pra mãe ou, muito mais fácil, procura na internet. Pelo menos não é daquelas que abre um pacote de miojo ou coloca no microondas uns nuggets. Outro dia calhou de ela fazer uma canja que achou no blog da mãe e mandou a foto do prato. A aparência é de uma sopa densa, quase  um risoto, mas disse que ficou uma delícia e se fartou, toda orgulhosa da produção. 


Acontece que frequentemente não encontra no Come-se comida confortável do dia-a-dia e apela para o que lhe parece mais confiável na internet, sem guardar a fonte. Outro dia me mandou foto de uma simples sopa de mandioquinha: "mamis, sopa de mandioquinha, eu que fiz, tá uma delícia!/ Quem te ensinou?/ Peguei na internet - é só a mandioquinha cozida num refogado de alho e cebola e depois triturado, a receita manda usar o mixer, mas eu usei o garfo mesmo".  Comeu com gosto, que eu conheço a filha que tenho e, pelo que se vê na foto,  estava debruçada nos livros. Fico feliz de ver que pode se virar sozinha,  que prefere um bom prato de sopa quente a qualquer resposta mais fácil à fome depois de um dia cansativo no hospital, mas aquilo de não encontrar aqui uma simples sopa de mandioquinha ficou me martelando. Poxa vida, dona Neide, não custa nada dar aqui uma receita que lhe pareça óbvia. Um caldinho de feijão com macarrão, uma sopa de lentilha, um creme de abóbora, um creme de espinafre (pode ser de taioba?). Então tá.  Começo com a de ervilha, que ela sempre gostou, mas que nunca teve aqui receita fixa. Hoje anotei tudo para que ela ou seus amigos que moram sozinhos não errem. A mandioquinha é pra diluir um pouco a ervilha que pode ser indigesta. Ela tem a mesma cremosidade, deixa a coloração mais avivada e o sabor fica muito bom. 


Sopa de ervilha com mandioquinha 


Lave bem e deixe de molho por umas duas horas 1 xícara de ervilha partida (isto é só pra cozinhar depois mais rapidamente).  Se tem certeza que a ervilha está bem fresca (quando velha ela fica mais dura e amarelada), nem precisa. Escorra. Na panela de pressão refogue 2 dentes de alho socados em 1 colher (sopa) de azeite até começar a dourar. Junte 1 cebola pequena finamente picada e 1 tira de bacon picada. Refogue tudo até a cebola amolecer. Junte 2 mandioquinhas pequenas picadas e a ervilha escorrida. Mexa bem, tempere com 1 colher (chá) de sal e junte 1 litro de água fervente. Tampe a panela de pressão e deixe cozinhar em fogo baixo por 20 minutos. Desligue o fogo, espere acabar a pressão, mexa para uniformizar e prove o sal. Se a ervilha ainda não derreteu, junte mais água quente e deixe cozinhar um pouco mais sem pressão. Aliás, se não tiver panela de pressão, cozinhe em panela comum por um tempo maior, juntando mais água quente para ajustar a consistência. Na hora de servir, junte alguma erva fresca como cebolinha ou salsinha picada, e coloque por cima uns pedacinhos de torradas feitas na frigideira com sobras de pão (basta cortar em cubinhos e jogar numa frigideira com azeite, sal e orégano - vá mexendo até dourar). Se quiser, regue ainda com um pouco de azeite ou  espalhe por cima pimenta-do-reino moída na hora e nhac!  Rende 4 porções 


As sopas que ela fez:




quinta-feira, 21 de junho de 2012

Peixes criados

Contei aqui que outro dia fui visitar uma leitora do come-se, Eliane, que vive com o João numa chácara em Extrema - MG,  e saí de lá com vários presentes: mudas diversas, mandioca já descascada, framboesa e tilápias congeladas. Tudo produzido na pequena propriedade. No outro dia descongelei as tilápias e elas tinham carne muito firme, com aroma suave. Temperei apenas com sal e pimenta, passei na farinha de trigo, fritei em bastante óleo e nhac. Ficaram deliciosas, especialmente porque servi com a mandioca que ganhei além de legumes orgânicos e folhas de mostarda da feira do Parque da Água Branca. 


Depois disso passei a ter muito mais vontade de criar meu próprio peixe no laguinho que temos lá na chácara de Piracaia.  Mas que peixe?  Apesar de gostar da carne de tilápia, queria um peixe nosso e que pudesse ser criado sem ração. Estou pensando em jundiá, que tem carne deliciosa e me parece rústico. Mas resolvi perguntar aqui aos leitores especialistas. Alguém tem alguma outra sugestão? O tanque, com água corrente, tem cerca de 25 por 15 metros, e cerca de 1,5 metro de profundidade, com alguma vegetação em volta. Fica, então, aqui o pedido para uma consultoria gratuita. Em troca, prometo depois dar  uma boa receita com os peixes. 


quarta-feira, 20 de junho de 2012

Aula de frutas no Paladar Cozinha do Brasil

Ontem tivemos mais uma reunião entre as inúmeras que já fizemos depois de termos sido convidadas novamente para o Paladar - Cozinha do Brasil. Disseram-nos que nossa sala dobrou de tamanho, dobrando também o tamanho da preocupação do pessoal que nos ajuda: Andreza, Lili, Hilda, Valentina. É que a cada reunião não param de chegar novidades. A gente não consegue parar de pensar nas frutas e nas infinitas possibilidades. Já havíamos decretado na penúltima reunião: nada de novas invenções. E ainda assim, ontem apareci com um papel de banana de duas cores e pasteizinhos de banana com creme de arroz e coco;  Ana Soares,  com uma conserva de mamão e carambola verdes e Mara Salles, com sais e passas de jabuticaba. Passamos a reunião toda tentando abreviar o que poderemos mostrar em duas horas de aula. O duro é cada uma abrir mão de suas criações. Tão dadivoso este trio. Como diz a Ana, é muito assunto. Tanta coisa gostaríamos de passar para que todos degustassem, mas Andreza estava preocupada, afinal alguém nesta equipe tem que ter juízo: "Gente, não tem condições de passar 19 itens pra degustar numa classe com 150 pessoas em 2 horas".  E assim cada uma ficou incumbida de colocar a cabeça no travesseiro e passar o facão em suas próprias criações. É triste isto, ah se é. No final, já marcada a próxima reunião para amanhã, Mara ainda vem com mais esta: vamos fazer pelo menos um ceviche de frutas, vai! Silêncio. Susto. Gargalhadas. Não!! 



Estas reuniões prévias, semanais desde que fomos avisadas da aula, servem não apenas para a preparação do conteúdo, mas também como grupo de estudo sobre um assunto específico. Aprendemos muito umas com as outras.  Neste ano, tivemos vários argumentos para justificar nossa escolha. Ana voltou de Paris encantada com cítricos; Mara, indignada com o desperdício de jabuticabas no pé, lá em Minas,  e eu com a cabeça nos umbus de Uauá,  nas sementes de cupuaçu e banana-da-terra de Acrelândia. Gostaríamos de ter tempo de ensinar tudo o que agora sabemos, mas tenho certeza que vamos conseguir ao menos despertar curiosidades e mostrar algumas técnicas. E, claro, aula com Mara e Ana será sempre cheia de teatralidade e cenografia. 


Ontem falamos um pouco sobre nossas memórias com frutas. Eu me lembrei que não havia um só dia na minha infância que não houvesse uma fruta de sobremesa no almoço e no jantar. Laranja, banana ou caqui. Abacaxi era para o domingo.  E era comum irmos para a frente da televisão ou para o quintal com uma bacia de laranjas que íamos descascando e chupando. Na terça, dia de feira, a casa tinha cheiro de laranja baía.  Lembrei também que no sítio do meu avô saíamos, minhas primas, irmãs e eu, para passear pela roça com a clara intenção de encontrarmos mamões maduros e melancias. Quebrávamos ali mesmo numa pedra qualquer e comíamos como animais, desperdiçando frutas quentes sem lavar, lambuzando a boca, mãos e braços. E lembrei também da história da geleia de frutas, que seria triste se não fosse engraçada. Já publiquei aqui, no post sobre a geleia de mocotó, anos atrás, mas vou repetir pra quem chega agora:  


"Ora, meu pai era caipira e só conhecia a tal geleia de mocotó, que se comia bem temperada com casquinha de limão, canela e suco de laranja. Em porções individuais, em copos, de colherada. Minha mãe nunca a desenformava. Então, na primeira sexta-feira depois do primeiro salário bom como operário de uma multinacional, quis fazer um agrado à família. Nas sextas de pagamento o mimo costumava ser doce de bar - de abóbora, batata doce roxa e amarela em forma de coração, maria-mole, doce de leite, pé-de-moleque, embrulhados em papel cor de rosa. Mas aquele era um dia especial. Passou no supermercado e viu lá uns copos de vidro. No rótulo, desenho de frutinhas e nome de geleia. Destas geleias comuns - apenas fruta e muito açúcar. Nada de mocotó. Só que ele não sabia. Pensou: se geléia de mocotó com laranja já é bom, sô, imagine estas com frutas todas. Seu Toninho comprou um sabor para cada um. Cinco filhos, pai e mãe, sete copos diferentes. Uva, morango, laranja, amora, goiaba, jaboticaba e maçã ou coisas assim. Acho que da Cica. Depois da janta, cada um pegou seu sabor predileto, catou uma colher, correu para a sala, se espremeu no sofá, com a boca cheia de doce esperando a novela acabar. Na primeira colherada, nhac, hum, nham, nham....; na segunda, han?; na terceira, argh. Um a um, copos e colheres açúcaradas foram deixados na mesinha de centro. Caras de entojo, barrigas curvadas e tanta sede. Como minha mãe nunca guardava nada que tivesse sido contaminado por “colher-de-boca”, que azeda a comida, mais de quilo de geleia foi ao lixo no outro dia. Nossa primeira coleção de copos de geleia. ..... Só algum tempo depois descobrimos que geleia de mocotó era uma coisa - pra comer de colherada,  e geleia de frutas era outra, pra passar uma pontinha de faca no biscoito que acompanha o chá. Mas demorou."


Só pra dizer que na nossa aula não ensinaremos a fazer geleias. De qualquer forma, o que for dado em aula ou o que for cortado deverá aparecer em breve aqui no Come-se. 


Paladar, cozinha do Brasil. 

terça-feira, 19 de junho de 2012

Pão de cará com centeio vira focaccia


Pão murcho vira focaccia
Nem sempre tudo dá certo, mas também nem sempre tudo está perdido. Fui convidada para ir junto com uma turma de nutrição da USP conhecer a feira de orgânicos do Parque da Água Branca e depois fazermos um piquenique debaixo das árvores. Resolvi fazer um pão de cará, mas descuidei do tempo na segunda fase de crescimento, depois do pão moldado, e o glúten, já enfraquecido pela presença do cará, dos flocos de centeio e da farinha integral, espichou, espichou, até que se rompeu. Odeio quando isto acontece, mas a massa estava tão boa que resolvi assar assim mesmo. Claro, em vez de pão, nasceram quatro tapetes retangulares. Ainda assim, estavam muitos gostosos, não só quando estavam quentinhos mas também hoje pela manhã, quando já tinha desistido de levá-los. Estavam muito macios. 


Então resolvi aproveitar o formato de focaccia e cortei a borda de todos para que ficassem mais regulares. Usei as bordas para torradinhas - lá embaixo.  Aí foi só besuntar todos com azeite e espalhar por cima alecrim, tomilho, flor de sal e orégano. Cortei em quadrados e coloquei no forno quente por uns cinco minutos, apenas para grudar um pouco a cobertura. Levei ao piquenique e não sobrou um para fotografar em melhor luz. Vai aí a receita certa. 

O pão cresceu demais e murchou
Virou focaccia improvisada 
Pão de cará com centeio 

Numa bacia dissolvi 10 g de fermento biológico seco com um pouco de água (de um total de 1 e 1/2 xícara ou 360 ml). Juntei o restante da água, 2 colheres (sopa) de mel, 1 de sal (ambas rasas), 1 colher (chá) de endro, meio quilo de cará cozido e amassado (amassado quente, usado nesta receita frio), 1 xícara de flocos de centeio, 1 xícara de farinha de trigo integral e farinha de trigo branca aos poucos, num total de 600 g aproximadamente. Sovei, sovei e quando a massa estava bem homogênea, se soltando das mãos, acrescentei 100 g de manteiga em pedacinhos. Sovei mais um pouco só para uniformizar e deixei crescer até dobrar de volume. Dividi em 4, modelei os pães e deixei crescer mais um pouco já na assadeira untada e enfarinhada  (nesta fase, deixei crescer muito, até o pão murchar de novo e isto, claro, é um erro). Fique atento a esta fase porque trata-se de uma massa mais frágil. Não posso dizer por quanto tempo você vai deixar crescer porque depende da temperatura ambiente, mas quando os pães lhe parecerem bojudinhos, quando apertar com o dedo e a massa voltar rapidamente, está bom. Faça cortes na superfície dos pães, leve a assadeira ao forno pré-aquecido bem quente, deixe assar por 10 minutos e diminua a temperatura para média. Deixe assar mais 50 minutos e veja se estão bem corados.  Bem, nada disso der certo, faça focaccia. 

Rende: 4 pães ou vários quadrados de focaccia

O piquenique no parque com alunos da nutrição - USP
As torradinhas 


As bordas foram cortadas em fatias mais finas
Fiz um pesto com tomilho, alecrim, manjericão, um pedacinho
de pimenta sem semente, sal e azeite 
Coloquei o pesto num saquinho e chacoalhei com o pão 
Espalhei numa assadeira 
Torrei no forno e nhac!

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Cereja-de-joinville, murtinha, cambuí-roxo



Respondendo à charada: pois é, eu já tinha dito, parece mas não é.  Parece jambolão (jamelão é aquele outro fruto grande, cruá), azeitona, açaí e até café maduro, mas não é. Pelo menos a Zezé acertou que era uma Eugenia (o gênero) e o Sérgio-Lisboa matou o enigma: Eugenia candeollana. A Mariângela acertou que os frutinhos estavam numa cerâmica do marido Rui Gassen. Já é alguma coisa. 
Agora, os outros leitores não precisam ficar se sentindo inábeis em frutas porque em matéria de ignorância, neste caso me incluo. Pelo menos até há poucos dias. 
Estava lá na praça, no último piquenique, quando o Marcos chegou com uma frutinha na mão. Veja, o que é isto? Não sei. Onde achou? Ele me mostrou a calçada da casa abandonada e eu provei uma pontinha da bolinha rubi. Era doce, mas não quis arriscar mais. Na volta para casa, passamos por lá e colhemos algumas. 
Eu passo há anos por aquela calçada e nunca tinha visto a planta de folhas brilhantes com galhos pendendo pra rua. Já vi naquela casa pato, galinha, bananeiras e várias outras curiosidades de acordo com os hábitos de quem dela toma conta. Deve haver problemas com herdeiros, sei lá, pois a casa está abandonada desde que moro na Lapa. Só sei que é uma construção de lindo projeto e com quintal espaçoso em frente à praça onde fazemos piqueniques, mas que faz esquina com uma avenida movimentada.
As mudas que consegui pegar

As folhas brilhantes

Podem ter uma ou duas sementes como as de pitanga
Diferente de outras Eugenias, não tem bicho - não que eu tenha visto

Colhemos frutas e demos seguimento às atividades do Exército de Drummond, cujo propósito é salvar frutas em situação de risco (não em risco de extinção). Por isto catamos da calçada várias sementes germinadas e arrancamos mudinhas em formação (já estão todas aqui replantadas, todas muito bem obrigada).
Chegando em casa corri com frutos, folhas e sementes para o livro "frutas Brasileiras e exóticas cultivadas", do Harri Lorenzi e outros. Tive quase certeza que era uma mirtácea quando vi a árvore, parecida com uma jabuticabeira. Então não foi difícil. Eugenia candolleana DC, também conhecida como ameixa-da-mata, murta, murtinha. Estes três nomes são muito infelizes para identificá-la pois são aplicados a outras frutas (ameixa-da-mata também é um dos nomes da grumixama, por exemplo). Encontrei outros nomes como cereja-de-cachorro, cambuí-roxo, camboim, cambuí-da-praia, cambuí-pitanga. Mas cambuí ou camboim também denomina outra fruta e cereja-de-cachorro é nome desmerecedor do potencial culinário da fruta (sem falar nutricional, óbvio).  Acho que um nome bom é cereja-de-joinville. Ainda que eu não saiba o motivo da denominação de origem, dificilmente será confundida com cereja-do-rio-grande, também chamada de cereja-do-mato, e outras mirtáceas.  Fiquemos pois com cereja-de-joinville. 

E digo que não sei o motivo, porque a informação do livro é que a fruta é originária da mata pluvial atlântica do Rio de Janeiro e Espírito Santo e na Zona da Mata mineira. Alguém de Joinville pode me dizer se a planta cresce e frutifica com fartura por aí?  O que sei é que a fruteira é rara não só no seu ambiente natural como também em pomares. Isto explica a nossa ignorância, minha e sua, leitor que não acertou a charada. 
Até que se parece com o jambolão, mas os frutinhos são mais esféricos, só ligeiramente ovalado (o jambolão é mais comprido) e não tem aquele tanino trava-papila. São deliciosos comidos in natura, lembra um pouco uma mistura de jabuticaba e grumixama. A pele é fininha, grudada à polpa, com coloração rubi escura, e não precisa ser separada na hora de comer, contribuindo com o sabor-mistura daquelas duas frutas. A polpa é branquinha, úmida, macia, traz uma leve acidez e é muito doce e aromática. Como eu não tinha muitas, comi algumas e conservei as outras em calda de açúcar enquanto decidia o que fazer. O interessante é que em calda grossa a polpa se desidrata um pouco, demonstrando ser a pele bastante porosa. Ela cozinha mas não racha o que me deu a ideia de usar como passas ou ameixas em calda. Foi o que fiz: comi com manjar. Mas poderia ter descaroçado e usado os pedaços em bolos ou muffins ou cozinhar junto com um frango, sei lá. Isto, é claro, além de poderem virar sucos, sorvetes, geleias e afins. 
Cereja-de-joinville em calda e o manjar


Cozinhei algumas cerejas-de-joinville numa calda de açúcar (primeiro cozinhei 1 xícara de açúcar e 1 de água até formar uma calda e só então coloquei as cerejas) por cerca de 10 minutos ou até que as cascas estivessem enrugadas, coloquei em vidro aferventado, escorrido e ainda quente, tampei e guardei. 


Para o manjar misturei tudo numa panela: 1 xícara de leite, 3 colheres rasadas de maisena, 3 de açúcar e 1/4 de xícara de coco ralado fresco. Levei ao fogo e deixei cozinhar, mexendo sempre, até engrossar. Enquanto ainda estava quente, distribuí em duas forminhas, esperei esfriar e gelar. Desenformei e servi com uma calda de caramelo à qual juntei algumas cerejas-de-joinville em calda e nhac! Lembrando de tirar as sementes na boca. 




sexta-feira, 15 de junho de 2012

O que é, o que é?

Já vou logo avisando: parece mas não é.  Agora, quem sabe você não sabe... Ou então chute, não custa. E eu tirei as letrinhas de conferência da caixa de comentário, facilitando seu palpite. Se você acertar, não ganha prêmios. E se errar, nada de reprimendas. É só uma brincadeira.  Resposta na segunda. Bom fim de semana!

Chuchu com camarão

Os que colhi na frente de casa 
Sufocando a primavera
Dá que nem chuchu na cerca, diz-se quando a coisa é farta. Eu por aqui que o diga, pois as gavinhas foram buscando apoio para dar um passo adiante e mais outro e outro mais, enroscando-se na primavera, no manacá da casa ao lado, no poste da calçada, na folha de babosa, no prego, nos fios, nas frestas das pedras.  As ponteiras vão tateando o vento procurando ressonância do apoio, quer atravessar a rua para laçar o vizinho. Chega a amedrontar. Há uma hora em que é preciso dar um basta ou também somos engavinhados pela canela quando subimos a escada. Não sem aquela dor de dó no peito. A menos que você tenha um quintal maior que o meu. Aí sim dá gosto ver a planta se alastrando sem limites além dos tutores e os chuchus graúdos pendendo do alto,  desafiando a força das gavinhas que parecem frágeis mas juntas são cabo de aço a sustentar um enforcado. 

Ontem ganhei mais chuchus da Leonilda e ainda não provei. Ela diz que são docinhos e densos. Por enquanto, fica só a ideia de preparo com os que colhi na poda há alguns dias. Chuchu com camarão é fácil de fazer e a combinação é infalível para crianças e adultos.  Não há chuchófobo que resista. 


Chuchu com camarão

Não tem receita. É só temperar com sal e pimenta um tanto de camarão. Enquanto descansa e pega o tempero, faça um refogado com alho, cebola, chuchu, tomate e sal. Deixe cozinhar com  um pouco de água até o chuchu ficar macio, mas não mole. Junte os camarões e cozinhe até que fiquem opacos. Prove o sal, corrija se necessário, espalhe por cima cheiro-verde e nhac!