quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O que é, o que é?

O que é, o que é? direto de Uauá, sertão da Bahia. Resposta só no dia 05, com muito tempo pra pensar. Arrisque um palpite, qualquer que seja. 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Vou pra Uauá! Volto no dia 05

A convite da Coopercuc, vou participar de uma mesa redonda no IV Festival Regional do Umbu, que começa na próxima sexta-feira em Uauá, no sertão da Bahia. E,  já que estarei na região, vou  dar um pulo em Canudos, conhecer melhor a história, a comida, ingredientes locais etc. Por isto,  só volto aqui no dia 05.

Você está convidado. Vamos?


Aproveitei o feriado para fazer várias receitas com umbu, para ir entrando no clima, e deixei tudo num blog à parte para quem quiser ver. 
www.umbuaua.blogspot.com





Caruru-do-reino, bertalha, caruru-de-seda, cipó-manteiga


Poucos leitores acertaram a charada, mas a quem errou agradeço a participação do mesmo jeito e reconheço que esta não foi fácil. Uma espécie pouco vista por aí. 

Eu a tenho desde que ganhei  da mãe de uma amiga da Ananda, uma chinesa, que me disse não saber o nome, mas que era uma planta comestível da terra dela.  Isto deve ter quase 15 anos e eu vivia a perguntar pra um e pra outro a ver se descobria o nome da planta que proliferava no meu quintal.  Até que a descobri num livrinho de ervas comestíveis. Embora o nome apresentado, Boussingaultia baselloides não seja o correto,  assim como também não é Anredera baselloides como aparece em outros artigos,  foi sem dúvida uma boa pista.  

Os botânicos a chamam de Anredera cordifolia - parece ser o nome mais aceito.  De chinesa, a planta não tem nada já que é originária da América do Sul, endêmica em vários países e encontrada em estado silvestre em todo o Brasil. E se não é cultivada por razões desconhecidas, é tida como planta daninha por seu próprio pecado - é prolífera, está sempre verde e fornece muito alimento através das folhas, ricas como as do espinafre e dos bulbos e rizomas, fontes de carboidratos e nutrientes como as batatas ou inhames. Como se não bastasse, é bastante ornamental e melífera.  Embora possua flores, raramente frutifica, mas a reprodução vegetativa é bastante eficiente, pois cada bulbilho destes brota muito facilmente com ou sem terra boa como suporte, bastando um tutor, dando origem a nova planta.  




Muitas flores e bulbos ao mesmo tempo. E muita abelha!


































No meu quintal, elas vão brotando, florindo,  atraindo abelhas, tomando conta, dando o que comer.  Os galhos são delicados, fáceis de controlar, caso queira diminuir a massa verde.  E o melhor, a planta é rústica, resistente ao ataque de pragas, requer poucos cuidados e vai bem até em terra argilosa. Uma cerca com orelha-de-padre, cará-moela,  caruru-do-reino e ora-pro-nobis e pronto, ninguém passa fome.

Os nomes populares são diversos em todos os lugares onde está presente. No Brasil é caruru-de-seda, cipó-manteiga, caruru-do-reino, ora-pró-nobis sem espinho e bertalha.  É só não confundir com aquele caruru ou bredo, com a bertalha mais comum,  nem com o verdadeiro ora-pro-nobisCom o ora-pro-nobis tem em comum o sabor e a textura das folhas suculentas. Com a bertalha (Basella alba), pertence à mesma família Baselácea, que também abriga aquelas batatas peruanas – Ullucus tuberosus.  Agora, por que se chama caruru-do-reino, nem imagino. Se quiser pesquisar mais a respeito, use os nomes em inglês: madeira vine, mignonette vine, uala hupe (no Havaí).  
O sabor dos bulbos é parecido com o do cará-moela, lembrando também pela mucilagem que os torna um pouco escorregadios, mas nada que os façam se aproximar de um quiabo, por exemplo. Umas gotinhas de limão ou vinagre na água de cozimento resolvem.   Do tamanho de  umas nozes, sendo mais estreitos, cozinham em cerca de 15 minutos, sem precisar descascar, e podem ser usados como as batatas, com a vantagem do design incomum.

Não vou dar receitas, mas saiba que você pode incluir em cozidos, sopas, no arroz, no omelete, nas saladas, etc. Hoje não tenho tempo porque viajo amanhã pra Uauá, mas depois tento desenvolver outros pratos e dou receita. Por enquanto, só as ideias pra quem tiver em casa ou no quintal abandonado mais próximo – aqui na Lapa já vi pelo menos uma planta em terreno a venda. Pra vender, nunca vi, não. Fica a dica pra quem quiser introduzir um novo e intrigante ingrediente no mundo gastronômico. Acho que vai fazer sucesso. 



Antes de passar em azeite com temperos, cozinhei por 15 minutos em água salgada.  Não acidifiquei a água, porque a pouca baba não incomoda, mas se você abomina baba, adicione umas gotas de limão.  Depois, basta temperar a gosto. Eu refoguei em azeite onde fritei um pouco de alho com cebola, pimenta, cebolinha e cominho. 

Os bulbilhos cozidos podem entrar na omelete junto com cebola à moda das tortillas espanholas.  



Bulbos e folhas podem ser cozidos com arroz 


As folhas podem ser preparadas como as de espinafre ou bertalha

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O que é, o que é?

Na quarta-feira de cinzas eu digo. Por enquanto quero saber se você também sabe. Arrisca um palpite?

Av. Paulista, lista, lista
São Paulo vazia é meu sonho de consumo no carnaval. Daqui não saio, daqui ninguém me tira. Boa viagem pra quem vai. Pra quem fica, cinema na Paulista sem filas, eba!

Cozinhando com amigos

Em pouco tempo, a cozinha que era vazia ficou cheia de fritos, assados e cozidos, chiados, risadas, aromas, tuc tuc de pilão e tintins de taças.  Sexta feira passada foi corrida, pois tinha o aniversário da amiga Marly, para o qual me comprometi a fazer tortillas, mas também já tinha combinado desde o ano passado cozinhar neste dia com o Fernando, amigo do Aikido. Passei rapidinho na Marly, deixei uma sacola com massa de tortillas, prensa e pasta de pimenta.  Pablo e Lúcia, amigos do Projeto Acre, que já estão experts em tortillas se encarregariam do preparo.  E eu perdi já que não se pode estar em dois lugares ao mesmo tempo (não brinca!). Segui pra casa do Fernando que tem uma linda cozinha envidraçada no meio de um jardim floresta, como um aquário, isolada do resto da casa. Lá fora, chuva forte.  

De vez em quando os amigos do aikido do Marcos, que também são meus, fazem estes encontros para cozinhar e beber e todo mundo se diverte muito porque são pessoas muito diferentes nas profissões e no jeito de ser, mas que tem no tatame e na mesa afinidades soberanas que os fazem amigos para sempre. No grupo há aqueles que não cozinham nada, há o que goste de comer bem desde que não seja milho, quem entenda muito de vinhos, há quem estude cervejas, aquele que cozinhe super bem apesar de não usar sal, os que picam o que mandar, os que lavam louça e gente ousada como o Fernando que coloca sumac na massa de tamal e com quem eu adoro cozinhar, porque não tem medo de errar. 

Ivan ao fundo e Fernando com olhos vermelhos de comer pimenta 

De comum nestes encontros, tem o assunto recorrente "pimenta", que surge sempre quase que espontaneamente. O Ivan é um equatoriano forte como um touro mas de feições suaves e fala calma que em nada denuncia seu gosto e tolerância por pimentas. E diz que é café com leite perto do irmão. Em todo encontro ele repete a estória da façanha infantil que era distrair a mãe, aumentar o fogo do arroz, só pra criar casquinha no fundo da panela, que ele e os irmãos comiam com pimenta fresca esmagada, muita pimenta mesmo. Eu morro de vontade de fazer isto, mas sempre esqueço.  O mais divertido é ver o duelo entre Ivan, o imbatível e Fernando, o teimoso. Enquanto Ivan não se abala quando come bhut jolokias frescas como se fossem morangos, Fernando se esforça para chegar aos pés dele e neste intento faz de tudo, de morder pimentas frescas a beber o bombástico tucupi com pimenta-de-bode. Nisto, quase perde a pose com olhos vermelhos em lágrimas lhes saltando da cara, fazendo caretas e bocas e por fim aceitando com humildade sua inferioridade capsaicínica - no tatame ou na pimenta, ele tem por Ivan o maior respeito e admiração, dá gosto ver. Mesmo assim, Fernando não é pário para qualquer um, não.  Veja o que diz: "Para mim pimenta é como alongamento: existe um fator genético, e outro cultural (treino). Eu aprendi a gostar de pimenta por que meu pai e meu padrasto sempre comeram muito, e pior, meu padrasto colocava pimenta no meu aparelho quando eu era criança, de sacanagem... uma hora eu meio que acostumei. É engraçado que a escala (scoville) de ardor das pimenta é exponencial. Para as pessoas, no âmbito psicológico/gustativo, é meio binário: ninguém gosta mais ou menos de pimenta. Eu tenho um alongamento papilístico gustativístico, e treino. Posso entrar facilmente em competições com pessoas normais (com o povo da física, a gente sempre fazia, que começava com um tubo de wasabi por pessoa), mas com o Ivan é impossível. É genético e cultural. Minha mãe não me dava chupeta de habanero, mamadeira de capsaicina, pirulito de jalapeño.... infelizmente. Portanto, sem chance de chegar lá... ele está num nível superior." Fernando

Levei massa de tortillas que já preparei para os dois encontros e duas pastas de pimenta, uma delas com pimenta-biquinho, bem suave e outra poderosa, mas que não sobrou nada. Na esfera da normalidade, as pessoas deste grupo gostam muito de pimenta e devoram tudo o que há de apimentado.  Fernando teve a ideia dos tamales e eu estava crente que era um expert com quem iria aprender. De fato, ele já comeu muito, de todos os jeitos, em suas viagens ao México - como eu, adora provar de tudo nos lugares por onde anda. Mas de última hora tivemos que consultar o I-pad na cozinha para confirmar se o frango ia cru ou cozido na massa. Achei que devia ser já temperado e cozido, mas Fernando achava que não e já tinha enfiado as coxas na massa. Então tivemos que tirar o frango da massa de milho fresca, limpar, lavar, temperar e cozinhar. Diante do estranhamento de todos,  inventamos que a receita era assim, que antes de cozinhar, precisava deixar o frango ali marinando um pouco. Poderíamos manter a versão que ninguém iria desconfiar do nosso erro grosseiro. A outra versão de tamal foi feita com fubá de moinho de pedra do sítio da sua mãe e caldo caseiro. Embrulhamos na folha de bananeira e cozinhamos no vapor. As duas ficaram deliciosas e o sensei Eduardo, que não comia milho, polenta e que tais, se esbanjou. Agora já tenho a receita certa vinda da mexicana Lourdes Hernandez, a quem não tive coragem de contar das nossas tentativas. Aproveitei pra perguntar se tamal pode ser feito com invólucro de qualquer folha e a resposta foi sim, ufa. Com folha de bananeira ficou ótimo. Próximo encontro, a receita certa.  Abaixo, fotos minhas e de Fernando Goldenstein.



Fazendo tamales


Edu, psiquiatra, sabe temperar mas não usa sal - terapia pra explicar porque


Fernando e eu 

Em família: na foto, Raquel, casada com Daniel, aikidoista como o Marcos.
Um dia Daniel aparece em casa com a nova namorada. Quem era? A prima Raquel, filha do irmão da mãe.


  
Marcos, ou Doc como é conhecido, é o comunicador da turma e sempre faz um resuminho irônico, sem perdoar nem mesmo o Sensei Eduardo, que agora está preparado até para comer polenta:  
Enfim, desfez-se o encanto...A fama de mau está definitivamente quebrada. Maiz, choclo, corn, chame-o como quiser...O fato é que o nosso querido Sensei baixou a guarda e rendeu-se aos encantos do milho = comeu, repetiu e se lambuzou! Um novo mundo se abre para ele agora = pamonhas, curais, manjares, sorvetes, pães, as sempre maravilhosas polentas etc = o céu é o limite. Comida e bebida impecáveis! Companhias ótimas e a casa do Fernando, um capítulo à parte, é um encanto (quem não foi perdeu - jamais poderíamos acreditar que ele moraria mesmo numa choupana convencional como as nossas, reles mortais!) e a sua hospitalidade é sempre digna de um Lord = adoramos tudo! A disputa das pimentas foi impagável - o Fernando não aprende, mesmo - no boliche e nas pimentas o Ivan é imbatível, não dá para competir! Marcos


Elas ajudam bastante: Carol, Cristina e Raquel (eu, atrás)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Jiló vermelho em receita indiana

Comprei estes jilós orgânicos na feira do Parque da Água Branca.  São lindos, os mesmos que compramos verdes só que maduros. Já falei do jiló vermelho aqui. Desta vez,  estava mais pensando em guardar sementes para plantar em Piracaia. Mas na segunda-feira veio aqui a indiana Sakuntala, de quem também já falei e quando viu os jilós vermelhos disse que na Índia se come muito deste legume. Não necessariamente vermelho, não necessariamente com a pele. Ela mesma prefere sempre descascar. No caso do vermelho, é ainda mais recomendável, não porque a pele seja ruim de sabor, mas é desagradável na mordida, muito firme, quase como uma casquinha de milho. Eu uso com casca porque acho a cor linda e cada um que tire no prato na hora de comer. Se do pelo da alcachofra ou do caroço da azeitona ninguém reclama, porque resmungar por uma pelinha inocente? Então, quis saber como Shakuntala faria o prato. "Ah, é só refogar cebola e pimenta no óleo, depois junta tomate e cúrcuma em pó, faz um refogadinho e coloca o jiló descascado ou não. Deixa cozinhar e pronto".  Mas não põe nenhum tempero verde?, perguntei. Ah, pode colocar coentro, ela respondeu. Sorte que tinha a erva aqui e ontem separei dois jilós bem vermelhos para semente e o resto foi pra panela.  Estes jilós maduros são mais adocicados, menos amargos, e combinaram com os temperos.  O cominho foi por minha conta.  Uma delícia, com arroz branco. Sem medidas, nem nada, eis a concretização do meu entendimento:










Refogado indiano de jiló 


2 colheres (sopa) de azeite 
1 cebola picada 
1 pimenta dedo-de-moça picada
2 tomates picados
1 colher (chá) de cominho triturado na hora
1 colher (chá) de cúrcuma em pó 
1/2 colher (chá) de sal ou a gosto
6 jilós vermelhos com ou sem pele (pode usar jilós verdes) picados
Folhas de coentro 


Numa frigideira ou panela coloque o óleo, a cebola e a pimenta. Leve ao fogo. Quando a cebola amolecer, junte o tomate picado, o cominho, a cúrcuma e o sal. Mexa e junte um pouco de água. Deixe cozinhar até o tomate amolecer e formar um molho denso. Junte o jiló picado, mexa e deixe cozinhar em panela tampada. Se precisar, junte mais água quente. Prove o sal e corrija, se necessário. Quando o jiló amolecer, desligue o fogo, junte o  coentro e nhac com arroz. 


Rende: 4 porções

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Garimpos do interior

 A primeira vez que fui não valeu. Quero dizer, valeu, mas não podia falar no blog,  afinal cheguei lá com uma amiga uns dias depois da inauguração e a porta estava fechada, embora estivéssemos em horário viável para almoço. Inconformada, toquei a campainha. A proprietária, Angelita, me atendeu e explicou o que tinha acontecido. Por causa das obras do prédio ao lado, o terreno deslocou quebrando manilha, provocando entupimento. Ainda assim, se eu quisesse entrar, se não me importasse com o transtorno e homens trabalhando, tudo bem. Havia no salão mais um casal que quis ficar.  Então, não contei aos leitores do come-se da vaca atolada acompanhada de couve refogada verdinha no alho fatiado nem dos perfeitos pasteis de angu, da farofa crocante ou do arroz fresco não-parboilizado,  porque era ali uma situação especial, com salão vazio, atendimento quase vip em condições adversas. E estava tudo tão bom.


Mas voltei ontem não para tirar a prova dos nove, mas porque me deu vontade mesmo de comer arroz e feijão bem feitos. Eu teria comido galinha caipira, mas Ananda, minha filha, quis comer carne suína e, mesmo o garçon tendo dito que o porco um pouco diferente (assim mesmo no cardápio) poderia demorar uns 40 minutos, pedimos e fomos enganando a fome com pasteis de angu recheados de carne moída ou canastra (pedimos mistos) incrivelmente sequinhos. Da primeira vez que fui eles chegaram decorados com folhinhas de ora-pro-nobis que podem ser comidas. Desta vez folhas grandes de couve-flor ou brócolis serviam de forração e eu sempre fico com dó de desperdiçar estas folhas comestíveis - preferia ora-pro-nobis.  Bem, o porco chegou super pururucante depois de 20 minutos e pode ser cortado com colher, de tão macio.  Angelita Gonzaga, a chef sócia proprietária, veio depois à mesa e explicou que a peça é cozida em forno baixo por 18 horas. Acho grande demais o corte para duas pessoas, mas digo isto porque não sou muito de carnes e nós três comemos pouco - ainda mais com uma porção de pastel antes. O prato foi suficiente para nós três e ainda sobrou para levar para casa. Dá para comer em quatro pessoas tranquilamente (quatro como nós, pelo menos).  A vaca atolada também. 


Além da porção generosa, do bom atendimento, tudo ali é feito com capricho - está certo que para mim nem precisaria que os pratos fossem de ágata e o cafezinho coado à mesa, bastando que a comida e o café fossem decentes - e são muito. Só mudaria duas coisas e fica aqui a sugestão pra Angelita: os lugares americanos de plástico às vezes grudam no antebraço. As mesas de madeira são lindas e peladas seriam mais agradáveis. E também deixaria um copinho ou algo assim para recolher os pingos do coador com pó quando tiramos a xícara de baixo dele.  Mas o restaurante é novo e os pingos nos is vão sendo colocados aos poucos.  O que importa agora é saber que a comida é muito boa - Angelita Gonzaga passou bons anos cozinhando em casa no estilo Lourdes Hernandez -,  tem comida brasileira da boa como galinha com osso e carne de lata, tem boas cachaças, o lugar é agradável e verdejante e você pensa que está fora de São Paulo. E o melhor pra mim, é perto de casa e o preço é bom. Por enquanto, só almoço. 

Garimpos do Interior

wwwgarimposdointerior.blogspot.com 
Rua Marco Aurélio, 201, Vila Romana, 2339-5008
Horário: das 12 às 16 horas (sábado, das 12 às 20 e domingo, das 12 às 18; fecha na segunda). Aceita cartões, mas não cheque. 






Para Ananda, cafezinho coado à mesa, com doce de leite

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Tukhmaria, tukmaria, takmaria, sabja, subja, falooda seeds ou sementes de alfavacão




Muita gente confundiu com chia (Salvia hispanica), última panaceia depois da linhaça. Daqueles alimentos que dizem servir para tudo, para diminuir o apetite, para levar embora toxinas, diminuir taxas de colesterol,  para melhorar a força dos ossos, melhorar a digestão, fornecer proteínas, cálcio, ômega três etc etc. O grão é originário do México, foi muito popular entre os astecas,  hoje custa cerca de R$ 80,00 o quilo no mercado e é a última promessa milagrosa para quem quer emagrecer. É muito rico nutricionalmente, mas milagres não existem, vamos combinar. 


De qualquer forma, a resposta não é chia. Felizmente tivemos acertos entre os leitores que mandaram seus palpites e aos quais agradeço muito  - veja lá nos comentários do post anterior.  Houve também quem arriscasse linhaça, sementes de pitaia e de kiwi. E a disposição das sementes como mapas foi capricho do acaso e não intensão minha. Mas a resposta: são sim sementes de manjericão. Poderia ser de qualquer um, mas foi do tipo alfavacão (Ocimum gratissimum), sobre o qual já falei neste post.



Para separar as sementes é só esfregar as flores secas com as mãos sobre
uma peneira de malha fina. Peneire novamente até que fiquem bem limpas
 

Na semana passada resolvi fazer uma poda nas plantas só para dar uma organizada no pequeno espaço, deixar entrar luz para as plantas rasteiras e liberar o caminho. O pé de alfavacão está enorme e quase sem folhas e estava tomado de cachos de flores secas. Comecei cortando todos, para que viessem folhas novas com mais força. Coloquei em cima da mesa e fui jogando por cima outros galhos de roseira, folhas de chuchu, de uva, capim santo velho, galhos secos de tomate etc. Na hora de juntar tudo para jogar fora, fiquei com dó (eu sofro de um apego crônico por plantas, mudas, sementes), achei que poderia espalhar pelo sítio que viraria uma floresta de manjericão cheirando a cravo e poderia, quem sabe, espantar bichos, insetos. Então separei as flores do manjericão, coloquei numa peneira para tirar as sementes e, embora já houvesse comido para sentir o sabor, não sabia se tinha usos culinários clássicos.  


Vim procurar na internet: basil seeds. Antes, porém, que encontrasse uma infinidade de informações a respeito, descobri que as sementes que havia trazido na boca ganharam volume. Tirei uma delas com o dedo e pude ver que agora era mais que uma bolinha escura. Havia hidratado e ganhado uma mucilagem transparente em toda a sua volta, como aquela que a gente vê naturalmente nas sementes de pitaia ou de kiwano (veja lá embaixo). Voltei pra cozinha e deixei um tanto de molho em água. Logo formou um grande bolo de gel, mas os grãos continuavam crocantes. Em seguida descobri que o ingrediente é usado na medicina ayurvédica na Índia mas também em pratos do sudeste asiático e em drinques como o falooda, mais pela beleza - o gel ajuda as sementinhas a se manterem suspensas por mais tempo.  Se tiver curiosidade, pesquise com os nomes de tukhmaria, tukmaria, takmaria, sabja, subja ou falooda seeds. 


O sabor: sempre experimento sementes pra ver se conservam o sabor da planta. No caso dos vários tipos de manjericão, nunca encontro aquele mesmo sabor das folhas. Aqui, apenas uma ligeira lembrança de cravo. Ainda assim já usei para temperar peixes e ficou interessante. Elas, assim como as sementes de todos os tipos de manjericão, se destacam mesmo é pela crocância e por esta capinha de gel que as recobrem.  Por isto, comecei fazendo apenas uma limonada misturando os três limões que eu tinha aqui: siciliano, taiti e rosa. E resolvi também fazer um xarope com as folhas da erva, que serviria para adoçar mas também temperar a bebida. No final, claro, muito gelo e as sementinhas já hidratadas. 


Xarope de manjericão 


Dois galhos de manjericão do tipo alfavacão ou cerca de 10 folhas 
1 xícara de açúcar orgânico 
1 xícara de água 

Amasse com as mãos as folhas e coloque numa panela com o açúcar e a água. Leve ao fogo e deixe ferver por 10 minutos ou até que vire um xarope ralo. Tire do fogo, espere esfriar e guarde em vidro - coado ou com as folhas. Deixe na geladeira por até uma semana e use em refrescos ou drinques alcoólicos. 

Rende: 1 xícara 

Limonada crocante de três limões com xarope e sementes de manjericão

3 limões de variedades diferentes (rosa, siciliano e taiti)
3 galhinhos frescos de alfavacão 
Gelo a gosto 
4 colheres de xarope de manjericão
3 colheres (chá) de sementes de alfavacão hidratadas por 10 minutos e escorridas

Fatie metade de cada limão e distribua entre os copos. Distribua também os galhinhos de alfavacão ligeiramente amassados com as mãos para liberar o sabor de cravo e complete o copo com gelo. À parte, esprema o suco dos limões restantes, junte o xarope e misture bem.  Despeje o suco nos copos e divida entre eles as sementes hidratadas. E glupt! Depois me conte se não fica bom.

Rende: 3 copos grandes

Abaixo outras sementinhas que você poderá usar: de kiwano ou kino e de pitaia - estas da foto usei para plantar, mas ficam lindas nos sucos. 




sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O que é, o que é?


Fazia tempo que não tinha charada no Come-se. Mas achei que isto poderia ser interessante. Você já sabe o que é? Olhe que dei o parâmetro do meu dedo, assim não pode dizer que eu enganei no tamanho. Arrisque um palpite e veja se acertou na segunda feira. Até lá e bom final de semana!

Arroz branco não tão pálido nem tão pobre

Todo mundo sabe que arroz branco é mais pobre que o integral, que com o beneficiamento ele perde a película e o germe e que com estas partes se vão as vitaminas do complexo B, gorduras, minerais e fibras. A película pode ser colorida de marrom, vermelho ou roxo - no caso do arroz negro. Então lá se vão também substâncias antioxidantes como as antocianinas. Mas não podemos dizer que não sobrou nada e que não alimenta, afinal arroz branco (e todo interior é branco independente da cor da película) ainda conserva o carboidrato do grão integral e alguma proteína, que não é muita, mas tem. Sem contar que é prático e a gente encontra versão orgânica. Meu preferido é o cateto que tem cremosidade mesmo quando requentado, mas ao branco agulhinha costumo juntar alguma hortaliça ou grãos para torná-lo mais úmido, nutritivo e ilustrado - afinal, todos os acréscimos ficam na superfície. 


Qualquer hortaliça que tenha na geladeira ou na horta pode se juntar ao arroz. Assim você aproveita o calor, o tempo, o tempero,  e o faz mais rico, saboroso e colorido. Tudo ao mesmo tempo. E sem comprometer em nada a praticidade. Melhor que aqueles pratos prontos congelados.   Valem uns pedaços de batata-doce ou de cenoura - mesmo pedaços grandes, folhas de legumes que você normalmente não consumiria, grãos de amendoim, lentilhas já cozidas, quiabo inteiro, vagens etc. 




Gosto de juntar pimentas ardidas inteiras, que aprisionam em si a picância mas espalham pelo arroz sabor e perfume. Na hora de comer, é só dividir com quem gosta. Ela estará macia e será um ótimo tempero para o prato todo.  Pimenta cambuci inteira combina muito com arroz. O pequi, sempre guardo congelado e aí não tem segredo. É só jogar na panela do arroz. Umas folhinhas de ora-pro-nobis, sempre pego do quintal ainda mais agora que a planta está carregada de brotos novos, ainda avermelhados.  Às vezes também tem apenas dois ou três tomatinhos, pouco para uma salada mas suficiente para dar mais cor ao arroz,  e eles podem entrar inteiros. Assim como os dentes de alho que, cozidos inteiros, são delicados no sabor (a pungência só se dá quando duas substâncias, que estão em compartimentos separados, entram em contato no momento em que o alho é picado ou triturado - se é cozido antes, uma das substâncias, que é uma enzima, é inativada e o processo não ocorre). Se cozinhar os dentes inteiros, o arroz fica ainda mais bonito. Você pode colocar vários e cada quem descasca no prato. Umas folhas de manjericão ou qualquer outra erva também contribuem para o propósito.  E, por fim, alguma cor também é sempre bem-vinda. Gosto de usar urucum e cúrcuma, que junto na hora de refogar.  Os incrementos, coloco na hora de adicionar a água. Para um prato único, lave bem um ovo e coloque para cozinhar junto. Na hora de comer, é só descascar o ovo, temperar com sal e pimenta e servir sobre o arroz, com uma colher de manteiga derretendo por cima. Ou um fiozinho de azeite. Agora, invente sua própria versão.


E se você ainda não sabe fazer arroz, use a gordura de sua preferência na proporção de 1 colher (sopa) para 1 xícara de arroz, 2 colheres (sopa) de cebola picada e/ou alho, 1 colher (chá) de sal e 2 xícaras de água, mais ou menos como se vê aqui: http://come-se.blogspot.com/2008/06/arroz-de-grelos.html