segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Araruta fajuta


Livreto editado pela Embrapa
Bingo. Teimei com o vendedor de araruta no Mercado da Lapa que a araruta da marca Stival que ele vendia não era araruta coisíssima nenhuma. Ele não acreditou. É que eu me lembrava de já ter ligado para esta empresa há mais de um ano movida pela mesma desconfiança e o engenheiro de alimentos havia dito que não, não era mesmo. Era amido (fécula, goma, polvilho) de mandioca, mas que no Paraná o polvilho era também chamado de araruta (conte outra!), que os dois produtos têm a mesma aplicação e mesma performance (me engane, que eu gosto), e que outra embalagem corrigida já estava a caminho (estou esperando). E o preço mais alto? Bem, para isto ele não teve explicação.
Hoje o engenheiro rezou a mesma missa. Só que desta vez resolvi denunciar a empresa por lesar o consumidor. O vendedor do Mercado da Lapa, por outro lado, havia garantido que aquela era araruta verdadeira, que sempre vendeu, que não teve reclamações, que ela tem propriedades medicinais, que tem dado certo (efeito placebo, todo mundo conhece) e que eu iria perder meu tempo ligando para a empresa. Mesmo assim, concordou que se o que eu dizia era verdade, seria caso de polícia, porque ele também paga mais caro pelo amido.
Hoje liguei pra ele avisando do engodo, dei até o nome do engenheiro com quem falei. O mínimo que ele poderia fazer era devolver a mercadoria e se recusar a vender um produto fajuta pelo dobro do que vale. Mas as coisas no Brasil não funcionam assim. Ele disse que não tem o que fazer, que está amparado pela nota fiscal, que tem que acreditar no que o produtor diz, que se a empresa está errada, problema deles e que vai continuar vendendo, afinal ele é o único do Mercado que tem a mercadoria “autêntica”. E isto lhe confere certo prestígio, certo?
O que eu não contei é que a Vigilância Sanitária vai bater lá no Box dele (é claro que ele não tem culpa, mas pelo menos avisei). Há outras ararutas e ararutinhas no mercado que também enganam o consumidor, mas pelo menos assumem o ingrediente em algum cantinho da embalagem: fécula de mandioca. Mas isto é crime também, afinal é como anunciar feijão e nos dar arroz, devidamente revelado na lista de ingredientes. Por isto, desconfiemos sempre.

É triste reconhecer que nós, consumidores brasileiros, estamos a anos-luz de ganhar respeito como tal e somos enganados a todo momento por acreditarmos sem questionar em tudo o que está impresso (nas revistas, nos rótulos, no jornal).

Agora, mais triste ainda foi levar a denúncia adiante: liguei primeiro para o Procon, mas, como não comprei o produto, me mandou ligar para a Anvisa (agência nacional de vigilância sanitária), que pediu que eu ligasse para a Vigilância Sanitária do Estado, que, por sua vez, me deu o número da agência do Município, que, por fim, mandou ligar na própria Prefeitura, 156, que ninguém atende. Várias tentativas depois, uma secretária eletrônica me fez escolher uma opção (animais e vigilância em saúde), após enumerar longamente 7 delas. Quando consegui ouvir uma voz de verdade, foi difícil me fazer entender (mas como assim: araruta não é polvilho de mandioca? O vendedor trocou a embalagem?). A denúncia está feita. Agora é esperar. E, enquanto isso, quem tiver mudas de araruta, estou aceitando.
Sobre a araruta
Originária das regiões tropicais da América do Sul, a Maranta arundinacea era encontrada especialmente nas regiões costeiras das Guianas até o Rio de Janeiro. Os índios Caraíbas e Caiapós a tinham como remédio e fonte energética (a raiz fibrosa é ralada e o amido é separado por sedimentação, como o amido da mandioca). Há várias versões para o nome. Parece que os ingleses passaram a chamá-la de Aruak root starch ou polvilho da raiz dos Aruak (nome de uma tribo que habitava as margens do Amazonas até o Caribe). Acabou virando arowroot, em inglês, e araruta em português.

Se hoje, para a indústria, é mais rentável e fácil produzir amido de mandioca, que ela abandone de vez o apelo do nome, seja honesta, assuma: não temos mais araruta industrializada no Brasil. Deixe que ela seja um item raro e rentável para pequenos produtores que podem resgatar esta cultura tradicional e devolver à araruta seus dias de mingaus cremosos, brevidades macias, bolos fofos e biscoitos crocantes.

Para saber mais, veja no site da Embrapa Agrobiologia
Cartilha sobre araruta (a da foto)
Araruta: resgate de uma cultura tradicional

Veja mais também aqui no Come-se.


24 comentários:

Agdah disse...

É a velha coisa de comprar "gato por lebre".

Ana Elisa Granziera disse...

Neide, você não está sozinha em sua frustração. O pior de tudo é dar-se conta de que MESMO ASSIM o Brasil é modelo em defesa do consumidor, e que estamos a frente de muito país de primeiro mundo. Imagine no resto do mundo, então! É um absurdo, e o que é triste é ter que ouvir dos outros "se não gosta, não compre" e ter que seguir em frente. Espero que a vigilância sanitária vá contra nossas expectativas e de fato bata na porta de ambos e faça algo a respeito. Mas parabéns pela tentativa, de qualquer forma, que já é mais do que muita gente faz!
Abraços.

laila radice disse...

é um absurdo mesmo...já cansei de procurar araruta e nunca acho...se achara averdadeira avisa a gente!!! bjos

Sill disse...

Oi Neide, já tive experiência fajuta como PROCON. Acho q falam, falam, só p fazer política mesmo. Já descobri q se quero alguma coisa devo contratar um bom advogado e ver no q dá. Outra coisa q eu acho q funciona mais é o apelo da imprensa ou do boca a boca mesmo. Falo p todo mundo qdo sou mal atendida nos SACs.. O ome-se tem que cair na boca do povo!! bj Sill

Anônimo disse...

vou passar estes dados sobre a planta para meu cunhado agrônomo e perguntar se por aqui existe a muda,a mãe fazia muitas bolachinhas na infância,uma lástima que o engodo continue grassando por este país afora mas são atitudes como a tua que trazem a mudança,eu também me indigno diante das coisas e se estou com a razão comprovada vou até o fim,beijo!

Fer Guimaraes Rosa disse...

Neide, quanta sacanagem... eu nao consegui fazer uma denuncia no ProconSP contra os incompetentes da Fnac porque nao moro em SP. com as compras online, isso esta completamente obsoleto, neh? e foi numa compra online que eu me ferrei. nunca recebi meu $$ de volta. e apelar pra quem? me disseram qua o jornal Folha de Sao Paulo tem um espaco pra denuncia de consumidor que funciona bem. nao tentei, mas voce poderia.. se eu achar o link te passo.

um beijo,

Daniel disse...

Eu comprei esta araruta fajuta no mercado da Lapa! Me sentindo um idiota por ter comprado gato por lebre.

Anônimo disse...

Neide: por conta de um tópico na comunidade do Mauro Rabelo no orkut, escolhi a araruta como tema do meu tcc em julho do ano passado. Liguei para mercados, fornecedores e fecularias de vários estados que dizem comercializar araruta. Alguns foram quase honestos ao admitir que o produto era somente fécula de mandioca, porém, a maioria insistiu em negar a fraude. Abraços. Tite B.

Anônimo disse...

Neide, consegui falar com o meu compadre e ele vai me trazer uma muda do manjericão thai no final de semana. Ele disse que está um tanto quanto combalida mas verei o estado dela, tiro uma foto e dependendo de como estiver, te mando alguma muda/semente. Aproveitando a oportunidade, tenho também uma planta que me foi dada como groselha mas ele dá muita flor e nada de fruta. Seria groselha mesmo ?
Ah ! Fiz um post, coloquei a foto do manjericão anis e citei o Come-se. Não tem nenhum problema, né ?

Neide Rigo disse...

Mariângela, obrigada. Mas acho que consegui um doador.
Fer, se eu não consegui resposta em 60 dias, vou apelar para os espaço do Estadão (este funciona). Obrigada.
Eduardo, quando o manjericão está combalido, é só replantar a ponteira. Sempre funciona. Vou gostar muito de ter uma mudinha do manjericão thai. Quanto à sua "groselha" não seria ela uma rosélia (hibisco, vinagreira etc)?? Veja aqui no Come-se:
http://come-se.blogspot.com/2007/05/tempo-de-hibiscos-ii.html
Um abraço a todos,
Neide

Anônimo disse...

neide,
Nos conhecemos há muito tempo, no comecinho do seu trabalho na Caras. Fiz as receitas por alguns números. Fui então para a M Claire, onde estou até hoje. Tínhamos filhos na Escola da Vila também.
Bom, prestei uma colaboração para uns DVDs que sairam do Globo Rural.
No número 3 tem uma reportagem sobre araruta. A senhorinha que colhe a raiz no quintal e faz a sua farinha. Termina com a filha dela fazendo biscoitinhos. É bem interessante. Coisas que nós, os urbanos, nem temos mais idèia. Lá , ela explica como o processo trabalhoso,rende pouca farinha. Acho que a dificuldade de acharmos uma araruta verdadeira hoje em dia, pode nos levar a refletir sobre muitas coisas desses tempos em que vivemos.
Sou sua fã. Beijo
Tanya Volpe

Neide Rigo disse...

Oi, Tanya! Há quanto tempo! Nossos filhos da escola da Vila já são adultos, hem? Também acompanho de longe o seu trabalho. E agora vou correndo comprar estes dvds do globo rural - achei que eram reedições do programa e como assisto a quase todos, achei que não precisava comprar o dvd. Mas agora eu quero. Um grande abraço pra você. Obrigada por aparecer,
N

Anônimo disse...

Oi Neide,
São reedições menmo.'Reciclagem' de material,sabe como é. Mas tem coisas bacanas de aprender. Minha colaboração foi pouca. Receitas e correções.
beijo
Tanya

Alice Garcia disse...

Olá.
Este texto sobre a araruta e a falsa araruta está muito elucidativo.
Possuo um livro muito antigo, que herdei da minha avó Ana, com as folhas amareladas e comidinhas fantásticas. Lá sempre encontro referência à araruta. Infelizmente, como leiga que sou, substituia por amido de milho.
Não sabia que a araruta é um tubérculo. Pensava que era apenas um nome alternativo para algum polvilho.
Neste livro também há referência ao ananás, que substituo por abacaxi.
Está correto?

Neide Rigo disse...

Alice,
Veja a cara da araruta aqui:
http://come-se.blogspot.com/2008/09/no-lorota-araruta-resposta-charada-de.html
Realmente é um tipo de amido ou polvilho, só que do tubérculo da araruta.

Quanto ao ananás, há uns tipos menores a que se chamam de ananás, mas no geral podem ser substituídos por abacaxi, sim.

Um abraço,n

Anônimo disse...

Gente,
Interessante o papo aqui também fiquei surpreso com a picaretagem dos produtos vendidos em supermercados com o nome de araruta com o preço médio de 4 reais o quilo. A verdadeira araruta só é produzida artesanalmente, é muito difícil de encontrar e é vendida a preço de ouro: pasmem, 50 reais o quilo!!! Vi uma reportagem que aparecia um agricultor produzindo o amido final, mais parecia um laboratório de refino de cocaína , muito engraçado aquela imagem...Era uma trabalheira dos diabos para produzir apenas alguns quilos por vez...com esse preço, tem gente que vai acabar cheirando araruta em vez de comer :-)

Anônimo disse...

Olá me chamo André, sou Engenheiro Florestal e trabalho com agroecologia junto com algumas familias camponesas no estado do Espírito Santo. Conheci a ARARUTA, não tem muito tempo, sei que a mesma é muito importante para pessoas que não podem se alimentar de glúten, pois a mesma não contém. Já a mandioca contém glúten, e se estiver sendo vendido o povilho como araruta pode prejudicar essas pessoas, realmente pode causar problemas. A araruta tem a vantagem no processo de fabricação do povilho decantar muito mais rápido que a mandioca.
E hoje tem ficado cada vez mais caro o povilho da araruta, um dias desses passou uma reportagem no globo rural que custa cerca de R$ 60,00 a 70,00 o kilo do povilho. um abraço. contatos andgeafer@pop.com.br

Neide Rigo disse...

Oi, André!
Realmente a araruta não tem gluten e pode ser usado por quem tem doença celíaca, em substituição aos cereais que tem esta proteína. Mas, só para esclarecer, polvilho ou qualquer outra fécula de raízes ou tubérculos também não tem gluten.
De qualquer forma, não se pode vender gato por lebre. Há outros posts no blog sobre araruta, basta procurar no campo de busca.
Um abraço, N

Marluce Copati disse...

Bom dia!
Você saberia me dizer o que substitui a fecula de batata em receitas?
Obrigada,
Marluce

Anônimo disse...

Quando eu morava lá em Barbacena, ouvi dizer que a ARARUTA era lá do Monte ARARATE, onde o Papai Noé encalhou o seu trenó, durante o dilúvio. É... verdade! Pois é, né!

A estória de que araruta é cruzamento de arara com truta é totalmente inverídica, boato da infernet. O chamado "complô da mandioca".
...
Prove que você não é um robô! Robô o que? Não roubei nada não.

Assassino em baixo:
Leide Trigo

Anônimo disse...

Será que este site é confiável para comprar araruta? http://ararutadabahia.loja2.com.br/308427-Araruta-Pacote-de-1Kg

Unknown disse...

Fécula de araruta da marca "Ponzan" também é fajuta?

Unknown disse...

Fécula de araruta da marca "Ponzan" também é fajuta?

Unknown disse...

A empresa Ponzan comercializa ao amido "Araruta" (palavra impressa no pacote), mas não passa de polvilho doce, ou seja, também é fajuta. Infelizmente.